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terça-feira, 24 de abril de 2012

Desenvolvimento e injustiça social: uma contradição



O pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (ENSP/Fiocruz) Marcelo Firpo ministrou a aula Saúde, ambiente e desenvolvimento, no curso de especialização em Vigilância Sanitária, nesta segunda-feira (16/4). Abordar o tema não só sob a perspectiva da Saúde Pública, mas também a sua interface com a saúde dos trabalhadores, os riscos ocupacionais, a análise das causas, além de incorporar a temática ambiental, foi a missão do palestrante, com pós-doutorado em Medicina Social pela Universidade de Frankfurt. "Me sinto cada vez mais contra-hegemônico dentro da Saúde Coletiva", disse ele. O pesquisador trabalhou com conceitos de situações de risco, vulnerabilidades, resistências de populações e movimentos sociais. De início, comparou a definição de saúde segundo a Organização Mundial de Saúde – "estado completo de bem-estar físico e mental" (1948) – com a que vigorava no fim do século XX – "a saúde [...] é vista como um recurso para a vida diária". Outro conceito mencionado e comparado por Firpo advém da relação com os determinantes sociais, que são "circunstâncias em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, incluindo o sistema de saúde". Firpo perguntou: "do que precisamos para viver/sobreviver?" O meio ambiente pode estar relacionado com a saúde de forma polissêmica, ou seja, com os vários ambientes, como casa e trabalho, público e privado, rural e urbano, florestas, rios e oceanos. "Precisamos do meio ambiente porque nele existem suportes à vida (ar, alimento, água potável, combustíveis, recursos genéticos, clima, formação dos solos, compostos bioquímicos, além de benefícios não materiais obtidos dos ecossistemas, como lazer, valores espirituais e religiosos, estéticos, educacionais, heranças culturais)."A vigilância trabalha com a categoria risco, cujo conceito se refere à exposição de seres humanos ao ambiente, o que pode trazer sofrimento, doenças e morte, sendo que, se a exposição não ocorresse, os efeitos não seriam produzidos. "Vivemos numa sociedade do risco, e hoje os riscos são decorrentes da ciência e da tecnologia ligadas à oferta de produtos e à produção industrial, a exemplo do acidente com o Césio 137 em Goiânia". A outra questão abordada pelo pesquisador foi o desenvolvimento, sobre o qual ele destacou a contradição processo econômico x progresso social e humano. Firpo explicou que "a relação entre saúde, ambiente e desenvolvimento acontece em vários níveis e modelos, coletivos ou individuais, nos ecossistemas globais (oceanos, blocos econômicos), regionais (países, bacias hidrográficas), locais (municípios, comunidades), além de em grupos sociais e famílias". "A crítica que faço aos modelos de desenvolvimento atuais é a injustiça social produzida por eles", disse o palestrante. Os riscos são passíveis de serem reconhecidos e controlados e os transtornos provocados por desastres e casos de doenças tenderiam a ser superados pelo conhecimento técnico-científico, pela legislação, pela atuação institucional e profissional. Firpo chamou a atenção para os prejuízos de se rejeitar uma tecnologia, produto ou processo por considerá-los inseguros, cujos benefícios, contudo, seriam grandes, e de se aceitar uma tecnologia por ser segura, mas que o tempo pode revelar extremamente perigosa. O pesquisador também trouxe para o debate o princípio da precaução, que trata do fato de as atividades humanas trazerem riscos moralmente inaceitáveis, o que leva a reações para impedir ou reduzir tais riscos, a exemplo dos transgênicos, explicou Firpo. "Essa discussão do paradigma entre o preventivo e o precaucionário está em disputa atualmente, e o acordo da biodiversidade adota a precaução como princípio, devido à livre-concorrência e à disputa de mercado", comentou.
Quanto à crise socioambiental causada pelas mudanças que vêm ocorrendo no mundo em termos de densidade populacional, Firpo considera que a lógica produtiva caracterizada pelo consumo atual, intensificado pelo mecanismo global, gera sofrimentos e prejuízos que não entram na cadeia do preço, o que ele chama de "violenta externalidade do metabolismo social".
Firpo classificou as três vertentes do ambientalismo: a conservacionista é marcada por uma visão preservacionista e romântica, desprezando a dimensão humana e social (Greenpeace); o ‘Evangelho da ecoeficiência‘ prioriza a internalização de custos e práticas gerenciais ambientais ‘limpas‘ à lógica do desenvolvimento capitalista; e o movimento pela justiça ambiental (ecologia política ou ambientalismo popular) se coloca como alternativa crítica às duas outras correntes hegemônicas no interior do movimento ambientalista. "O grande desafio político é como transformar lutas em modelos de desenvolvimento". Alguns outros desafios lembrados pelo pesquisador referem-se aos impactos da produção de energia, ao agronegócio, ao uso de agrotóxicos, à reforma agrária, à segurança e soberania alimentares, às ‘zonas de sacrifício‘ criadas com a crise socioambiental, à mercatilização da vida e da natureza, à redução das emissões por desmatamentos e degradação. Para ele, no entanto, a questão não está no fato de ver ou não ver, mas se o que deixamos de ver é fundamental".

Fonte site ENSP www.ensp.fiocruz.br

terça-feira, 17 de abril de 2012

VIGITEL 2011


Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL 2011) – Parte I
  

Quase metade da população brasileira está acima do peso


Percentual da população acima do peso e de obesos aumentou nos últimos seis anos. O desafio do Ministério da Saúde é estacionar a tendência de crescimento nos próximos dez anos.

O excesso de peso e a obesidade aumentaram nos últimos seis anos no Brasil, é o que aponta o mais recente levantamento realizado pelo Ministério da Saúde. De acordo com o estudo, a proporção de pessoas acima do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o resultado desse levantamento mostra que é necessário continuar investindo em ações preventivas, sobretudo aos mais jovens. “Com o resultado desse levantamento nós conseguimos resultados que permitem aprimorar nossas políticas públicas, que são essenciais para prevenir uma geração de pessoas com excesso de peso”, disse o ministro durante o anúncio, nesta terça-feira (10), dos resultados da última pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011), promovida pelo Ministério da Saúde em parceria com Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo.
O estudo retrata os hábitos da população brasileira e é uma importante fonte para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde preventiva. Foram entrevistados 54 mil adultos em todas as capitais e também no Distrito Federal, entre janeiro e dezembro de 2011.
O aumento das porcentagens de pessoas obesas e com excesso de peso atinge tanto a população masculina quanto a feminina. Em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam acima do peso ideal. Agora, as proporções subiram para 52,6% e 44,7 %, respectivamente.
O problema do excesso de peso entre os homens começa cedo. Entre os 18 e 24 anos, 29,4% já estão com o Índice de Massa Corporal (IMC) – razão entre o peso e o quadrado da altura – maior ou superior a 25 Kg/m², ou seja, acima do peso ideal. Já a proporção em homens com diferença etária de apenas 10 anos (idades entre 25 e 34 anos) quase dobra, atingindo 55% da população masculina. Na faixa etária de 35 a 45 anos, a porcentagem alcança 63% dos homens brasileiros.


EXCESSO DE PESO É MAIOR COM O PASSAR DOS ANOS 

O envelhecimento também tem forte influência nos indicativos femininos. Um quarto das mulheres entre 18 e 24 anos está acima do peso (25,4%). A proporção aumenta 14 pontos percentuais na próxima faixa etária (25 a 34 anos de idade), atingindo 39,9% das mulheres, e mais que dobra entre as brasileiras de 45 a 54 anos (55,9%).
O aumento exponencial dos percentuais de obesidade em curto espaço de tempo também assusta. Se entre os homens de 18 a 24 anos, apenas 6,3% são obesos, entre os de 25 e 34 anos, a frequência de obesidade quase triplica (17,2%).

Considerando somente a população feminina, há um aumento de cerca de 6% a cada diferença etária de 10 anos, até chegar aos 55 anos. Entre as brasileiras com idade entre os 18 e 24 anos, 6,9% são obesas. O percentual quase dobra entre as mulheres de 25 e 34 anos (12,4%) e quase triplica (17,1%) entre 35 e 44 anos. A frequência de obesidade se mantém estável após os 45 anos de idade, porém em um patamar elevado, atingindo cerca de um quarto das mulheres.


COMBATE À OBESIDADE 

A obesidade é um forte fator de risco para saúde e tem forte relação com altos níveis de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol e casos de pré-diabetes. Pessoas obesas também têm mais chance de sofrer com doenças cardiovasculares, principalmente isquêmicas (infarto, trombose, embolia e arteriosclerose), além de problemas ortopédicos, asma, apneia do sono, alguns tipos de câncer, esteatose hepática e distúrbios psicológicos.

Um dos objetivos do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), lançado em 2011, é parar o crescimento da proporção de adultos brasileiros com excesso de peso ou com obesidade. Para enfrentar este desafio, que começa na mesa, o Ministério da Saúde tem investido em promoção de hábitos saudáveis e firmado parcerias com o setor privado e com outras pastas do governo.

O consumo excessivo de sal, por exemplo, é apontado como fator de risco para a hipertensão arterial. Para diminuir o consumo de sódio entre a população, o Ministério da Saúde firmou acordo voluntário com a indústria alimentícia que prevê a diminuição, gradual, do uso do sódio em 16 categorias de alimentos.

As metas devem ser cumpridas pelo setor produtivo até 2014 e aprofundadas até 2016. O pão francês, as massas instantâneas e a maionese são alguns dos alimentos que vão sofrer redução de sal.


SEDENTARISMO DIMINUI E HOMENS SÃO OS MAIS ATIVOS 

O relatório também apresenta dados sobre a prática de atividades físicas. Os homens são mais ativos: 39,6% se exercitam regularmente. Entre as mulheres, a frequência é 22,4%. O percentual de homens sedentários no Brasil passou de 16%, em 2009, para 14,1%, em 2011. Em 2009, 16% dos homens foram classificados como fisicamente inativos.

No entanto, a tendência percebida é de aumento de sedentários com o aumento da faixa etária. Se 60,1% dos homens entre os 18 e 24 anos praticam exercícios como forma de lazer, este percentual reduz para menos da metade aos 65 anos (27,5%). Na população feminina, as proporções são semelhantes em todas as faixas etárias, variando entre 24,6% (entre 25 e 45 anos) e 18,9 % (maiores de 65 anos).
A pesquisa também revela que 42,1 % da população com mais de 12 anos de estudo pratica algum tipo de atividade física. O percentual diminui para menos de um quarto da população (24%) para quem estudou até oito anos. A frequência de exercícios físicos no horário de lazer entre mulheres com mais de 12 anos de estudo é o único indicador da população feminina que figura acima da média nacional (33,9%).


ACADEMIAS DA SAÚDE ESTIMULAM A PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA 

As ações de promoção à saúde são consideradas estratégicas pelo Ministério da Saúde para a prevenção de doenças crônicas e melhoria da qualidade de vida do brasileiro. O Programa Academia da Saúde, previsto no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil é o carro chefe para induzir o aumento da prática da atividade física na população.
O programa prevê a implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados para a orientação de práticas corporais, atividades físicas e lazer. A meta é construir 4 mil polos até 2014. Atualmente, há um total de 1.906 polos habilitados para construção, além de 150 academias em 91 municípios que já existiam e estavam de acordo com as normas preconizadas pelo programa, portanto, reconhecidas como Academias da Saúde.
Em 2011, o Ministério da Saúde empenhou R$186,52 milhões para incentivos de construção, dentre os quais R$124,76 milhões são recursos de Programa e R$ 61,76 milhões são recursos provenientes de emenda parlamentar.



Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL 2011) – Parte II


Número de fumantes segue em queda no Brasil


Pela primeira vez, o percentual de fumantes está abaixo dos 15%

O número de fumantes permanece em queda no Brasil. É o que revela a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011), realizado pelo Ministério da Saúde. Segundo a pesquisa, de 2006 a 2011, o percentual de fumantes passou de 16,2% para 14,8%. A incidência de homens fumantes no período 2006-2011 diminuiu a uma taxa média de 0,6 % ao ano, segundo o Vigitel 2011.

Leia tabela com dados.

Ouça mais sobre o tema na 
Web Rádio Saúde.

A frequência é menos da metade do índice de 1989, quando a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou 34,8% de fumantes na população. “Os dados mostram que nossas políticas públicas contribuíram efetivamente nessa redução. Hoje temos mais ex-fumantes do que fumantes no País, mas é preciso continuar reforçando a luta pelo tabagismo. Queremos reduzir essa proporção com as medidas restritivas, como a proibição de fumódromos em recintos coletivos fechados, a restrição dos aditivos de cigarro que alteram sabor e odor, que vão reduzir o tabagismo no grupo de jovens e de mulheres, a proibição de propaganda nos pontos de venda, e o aumento da tributação sobre cigarros”, explicou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Homens fumam cada vez menos

A frequência de fumantes continua maior em homens (18,1%) do que entre as mulheres (12%). Porém, é a população masculina quem também lidera a redução do hábito de fumar entre os brasileiros: um quarto dos homens declarou ter abandonado o cigarro (25%).

A tendência de queda do consumo do tabaco em homens foi constatada em todas as faixas etárias e independentemente do grau de escolaridade. Essa redução resultou na queda da prevalência do fumo na população geral. Além disso, o baixo número de fumantes entre os jovens de 18 e 24 anos: 12,5%, porcentagem inferior à média nacional. Além disso, o Vigitel 2011 também apontou que 11,3% desses jovens param de fumar antes de completar 25 anos.A quantidade de pessoas que largam o vício aumenta com o avançar da idade. A frequência de ex-fumantes é quase cinco vezes maior para homens maiores de 65 anos (52,6%). Entre as mulheres, a maior queda é sentida na faixa etária dos 55 aos 64 anos, atingindo 30% da população feminina.

Outro bom motivo para comemorar é a diminuição dos homens que fumam mais de 20 cigarros por dia, o chamado fumo pesado. A proporção passou de 6,3% para 5,4% nos últimos seis anos. Ações de combate ao tabaco estão entre as prioridades do Governo Federal.

Uma série de medidas para reduzir a atratividade do cigarro vem sendo liderada pelo Ministério da Saúde. Dentre elas, destacam-se a proibição de publicidade do tabaco, a adesão à Convenção-Quadro do Controle do Tabaco de 2005, aumento das alíquotas dos impostos para 85%, proibição de fumódromos e a ampliação do espaço reservado às advertências sobre os efeitos danosos do fumo nos maços. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu os aditivos do cigarro.

Fumo passivo 


O Vigitel 2011 apontou que 11,8% dos brasileiros não-fumantes moram com pelo menos uma pessoa que fuma dentro de casa. Além disso, 12,2% das pessoas que não fumam convivem com algum colega fumante no local de trabalho.

São as mulheres (13,3%) e os adultos entre 18 e 24 anos (17,7%) quem mais sofrem com o fumo passivo dentro de casa. Já no trabalho, a frequência de homens atingidos pelo fumo passivo (17,8%) é mais que duas vezes superior à registrada entre as mulheres (7,4%). Homens menos escolarizados (até oito anos de estudo) são as principais vítimas do cigarro alheio no ambiente de trabalho (20,9%), percentual bem superior se comparado àqueles com mais de 12 anos de estudo (8,9%).

Para o ministro, a Lei Antifumo sancionada pela presidenta Dilma Rousseff vai contribuir para a redução do fumo passivo no ambiente de trabalho. “O resultado do Vigitel só reforça a importância de investir em políticas públicas mais restritivas ao tabaco. O ambiente de trabalho também é um espaço público, portanto deve ser livre do cigarro”, afirmou Padilha. O SUS gasta cerca de R$ 19 milhões por ano com diagnóstico e tratamento de doenças causadas pelo tabagismo passivo.

De acordo como o Instituto Nacional do Câncer (INCA), pelo menos 2,6 mil não fumantes morrem no Brasil por ano devido a doenças provocadas pelo tabagismo passivo. Pessoas que não fumam, mas são expostas à fumaça do cigarro têm 30% mais chance de desenvolver câncer de pulmão e 24% a mais de sofrer infarto e doenças cardiovasculares.

Informação como aliada no combate ao tabagismo

Quanto mais informação, menor a chance da pessoa se iniciar no vício de fumar. O percentual de fumantes com menor escolaridade (0 a 8 anos de estudo) é de 18,8%, quase o dobro em relação às pessoas mais escolarizadas (12 anos ou mais), que atinge 10,3%. O Ministério da Saúde também investe em ações educativas. O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento de Doenças Crônicas não transmissíveis prevê o fortalecimento do Programa Saúde na Escola, voltado para prevenção e redução do uso do álcool e tabaco entre crianças e adolescentes.